sábado, 22 de fevereiro de 2014

letter to the one that broke me.


Olá,

Sei que foi ainda só ontem que abandonamos a vida um do outro, mas não podia deixar que as coisas acabassem assim. Tenho 17 anos, sou uma mulher e duma vez por todas não vou deixar nada por dizer.
Não é que tu mereças nada disto, porque tu não mereces, mas só o facto de não conseguir dormir com tudo o que tenho preso dentro de mim, em cativeiro até à data em que me esquecesse de isto tudo, dir-te-ei tudo o que penso.
Tu não me conheces nem eu te conheço e acredito piamente que há pessoas que entram na nossa vida para nos ensinarem a deixar o passado onde ele pertence. Mas mesmo não me conhecendo eu vou resumir-te como sou... Nunca lidei bem com perdas e nunca me consegui desligar do passado.
Tu não entendes, nunca passaste pelo mesmo, mas um dia entenderás.
Sempre fui difícil de agradar, mas tu conquistaste-me. Tu fazias vibrar cada uma das minhas células. Eras tudo aquilo que eu queria, precisava e desejava. Eras o meu sonho, mas nunca quis acreditar nisso. Davas-me segurança com um só abraço e eu sempre o neguei, tentando antever a queda para que quando isso acontecesse, algo me amortecesse a mesma. Fizeste-me sentir viva, deste cor à minha vida e apareceste na melhor altura. Contudo, eu não confiei em ti, nunca acreditei que tudo o que dizias pudesse ser verdade e os teus atos presentes, só me provam de que o meu instinto estava correto e mesmo tentando dar-te o melhor de mim, mesmo tentando fechar os olhos a todos os meus medos e inseguranças, a tudo o que diziam, mesmo tentando cair um bocadinho de cada vez e ser sempre sincera contigo, não foi suficiente.
Leio e releio os textos de Dezembro, as mensagens de ano novo em que prometeste aturar-me até sermos velhinhos, as mensagens de bom dia, de boa noite, as que diziam só adoro-te ou mesmo aquelas em que dizias querer ficar comigo, querias que um dia acordasse ao teu lado e que eu te fazia feliz.
Sabes quando uma pessoa dá demasiado a outra que já não sabe bem quem é?! Foi o que aconteceu. A vida não é cinza, há que ser sincero, correto, simples e claro. Não quero mais complicações, histórias de terceiros, não quero saber de nada.
Só quero que saibas que me irei sempre recordar de ti como aquele rapaz que me protegeu da chuva, que me fez acreditar que valia a pena largar o passado, que por ele valia a pena tentar. Mesmo quando já não me lembrar bem de ti, do teu nome e de tudo, vou lembrar-me sempre daquele momento que mudou a minha vida. E é por isso que as memórias me estão a matar neste preciso momento.
Mesmo não estando na minha vida, fizeste-me evoluir, avançar, viver o presente e não uma ilusão do passado.
E não vou ser hipócrita ao ponto de dizer que espero que tudo corra bem com ela, porque não espero. Espero sim que arranjes alguém que te "descomplique", de alguém que te faça feliz, de alguém que te dê tudo o que mereces porque eu dei-te muito mais que isso, sem te dar e espero que aí já não tenha ciúmes dessa pessoa.
Sempre soubeste que escrever nunca foi o nosso remédio, mas foi sempre a nossa cura. E se há versos que nunca me esquecerei são estes, de Eugénio de Andrade "Já gastámos as palavras meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. (...) Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas. Adeus."
Este poema resume tudo pelo o que passamos. Tenho muita pena de tudo se ter sucedido assim. Talvez se pudesse voltar atrás faria tudo de forma diferente. Mas tu ensinaste-me que não vale a pena olhar para trás, se o caminho é para a frente e a partir de agora assim o farei. Já não quero saber mais nada.
Vou ficar no meu quarto, vou fechar os olhos, ouvir música e sei que por vezes passarás pelos os meus pensamentos, talvez todas as manhãs e todas as noites, mas isso de certo passará, afinal como poderia uma pessoa significar tanto para mim, se por um passo em falso deixei de ter valor?!
Às vezes somos culpados por algo que não fizemos, dissemos nem pensámos, mas fico feliz pelo destino ter escolhido este caminho para mim, talvez sejas mais feliz assim, acreditando em todos aqueles que te querem mal.
Em tom de conclusão, quero só agradecer-te por tudo e principalmente por leres este meu desabafo, já não há mais a dizer. Já me magoaste o suficiente e fizeste-me ver que mesmo quando tudo parece o que é, afinal já não o é, deste-me o lado instável e estável da vida, num paradoxo deleitoso e infernal. Ensinaste-me que mesmo quando estamos a entregar-nos, a outra pessoa pode só estar a usar-nos e quando se cansar de nós, partirá para outra em menos de vinte e quatro horas, fingindo que nada se passou, foram só dias, uma página foi virada, um capítulo esquecido, algo substituível, peões de um jogo, sendo que o vencedor é sempre o mesmo jogador. Afinal a vida é feita de dias, os dias passam, os anos também e enquanto isso acontece, ficarei à espera de encontrar alguém que me valorize e que valorize também os sentimentos mútuos, me mereça, que seja tudo o que preciso e que me dê a confiança nunca antes obtida.

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